domingo, 22 de junho de 2008

Presentando: Jorge Drexler

Carlos Lustosa Filho

Coluna semanal de hoje, 07 de setembro de 2007


Neste momento estou acabando de ler uma matéria sobre um cara que já devo ter falado aqui e que gosto muito, o uruguaio Jorge Drexler. Como sempre, acho que devo uma explanação maior sobre ele e sobre a minha admiração por ele surgida após aquela coisa triste do Bandeiras cantando com o Santana a música "Al otro lado del Rio" no Oscar. A música que está na trilha do "Diários de motocicleta" foi executada na cerimônia do Oscar, é até bonita mas quando ela virou "hit" eu já conhecia um pouco mais do trabalho do Drexler. Recomendo absolutamente tudo do cara - hehehe. Sem exageros, o trabalho dele é muito bem-feito, seguro, tem uma poesia muito bonita, direta, enxuta, sem ser simples. Bom, só ouvindo mesmo pra entender. ele tem influências brasileiras perceptíveis e várias citações do nosso país - em algumas canções ele fala da Bahia, de João Gilberto, enfim... - uma admiração perceptível. Ele também nos deixa a sensação de conhecermos um pouco - nem que seja de um modo meio deturpado - do que é o Uruguai, a ex-Cisplatina, tão próxima e ao mesmo tempo tão distante das terras tupiniquins. Deixo vocês com uma matéria do G1, na verdade da revista Época. Espero que gostem de conhecê-lo.








"Te traigo mis cicatrices, palabras sobre papel pentagramado”, canta Jorge Drexler na música Soledad, de seu último disco, 12 Segundos de Oscuridad. O verso é emblemático do tom melancólico e autobiográfico do disco e da produção lírica de Drexler, com letras bem elaboradas. Apresentada, a canção revela ainda uma marca na história musical desse uruguaio nascido em 1964, em Montevidéu. O dueto com a cantora Maria Rita mostra a participação dos artistas brasileiros em sua obra.


A música título do álbum, por exemplo, foi composta em parceria com o gaúcho Vitor Ramil. A faixa Disneylandia é uma versão em espanhol de uma composição do paulistano Arnaldo Antunes, gravada no disco Cabeça Dinossauro, de quando ele fazia parte dos Titãs. Não se trata de simples influência brasileira, mas de um intercâmbio cultural. Drexler já foi gravado por Maria Rita, Paulinho Moska, Simone e Zélia Duncan e Ivan Lins, entre outros tantos das bandas de cá. Ouvinte assíduo de música brasileira – “o Paulinho Moska fala às vezes que eu ouço mais música brasileira do que ele”, diz – Drexler, nesta visita, pôde conferir o retorno do público do país, em um show em São Paulo, na terça-feira (4).


Os ingressos, esgotados em poucos dias, foram muito procurados por fãs do vencedor do Oscar de melhor canção, com El Otro Lado del Río, trilha de Diários de Motocicleta. É mais uma parceria com um brasileiro, dessa vez o diretor de cinema Walter Salles. O cantor uruguaio não decepcionou a esse público e relembrou o episódio da entrega do prêmio em que, proibido de apresentar-se, cantou à capela sua composição na hora dos agradecimentos. Também seus fãs anteriores ao episódio, conhecedores de sua discografia, ficaram satisfeitos com o show.


Sem banda, apenas com violão e equipamentos eletrônicos, Drexler apresentou músicas de vários discos. De Eco (2004), apresentou a música homônima, Guitarra e Vos, Milonga del Moro Judío, Polvo de Estrellas e Se va, se va, se fue. Do último disco, 12 segundos de Oscuridad (2006), a música título, La vida es Más Compleja que Parece, Soledad, Disneylandia e La Infidelidad de la Era Informatica. De Sea (2001), Pianista do Gueto de Varsóvia e de Frontera (1999), La Edad del Cielo.


Se o público canta em espanhol, Drexler também canta em inglês. A versão de Radiohead para High and Dry, do último disco, e Dance me to the End of Love embalaram o público, que acompanhava as versões com o tom das milongas de sua terra natal. Também quase uma milonga foi a transposição de Sampa, música de Caetano Veloso, que Drexler interpretou em espanhol. Em vez de “novos baianos”, a letra traz “montevideanos”. “Tive que fazer força para não cantar em português, porque já conhecia a canção há muitos anos”, afirmou.


Na entrevista a seguir, Drexler fala a ÉPOCA sobre sua forte ligação com a música brasileira e seus shows com Arnaldo Antunes e Paulinho Moska no projeto Mercosul Musical, do Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, de quinta (6) a domingo (9).


ÉPOCA – De onde veio a influência brasileira em sua obras?
Jorge Drexler
- Ela veio como uma conseqüência lógica da presença do Brasil na minha vida e na minha música também. Desde o primeiro convite do Paulinho Moska, em 2003, já vão quatro anos que estou vindo para o Brasil de visita, para gravar e participar dos projetos de outras pessoas. Tenho uma lista de com quem já atuei – cantando, tocando, cedendo canções minhas – que me orgulham. Celso Fonseca, Maria Rita, Marcos Suzano, Paulinho Moska, Ramiro Mussoto (percussionista e produtor argentino radicado no Brasil há mais de vinte anos), Ivan Lins, Simone e Zélia Duncan, George Israel, Adriana Maciel, Vitor Ramil, Arnaldo Antunes.


ÉPOCA – Qual a importância da música brasileira dentro do seu universo de referências?
Drexler -
Sou uruguaio, e o Uruguai é o menor país dentro do continente e fica entre os dois maiores. Eu já falo português, mas nunca tive aulas. Nem sei como aprendi. Do mesmo jeito, não sei como entrei em contato com a música brasileira. É uma presença forte na cultura uruguaia. O Brasil e a Argentina têm uma presença forte em todo Uruguai, na cultura, política, na economia, para bem e para mal [risos]. E na música é notório. A música brasileira é uma das entidades nacionais que mais facilmente influem no estrangeiro.


ÉPOCA - Você sempre destaca da importância do João Gilberto na sua música e no seu aprendizado de português. Quais outros brasileiros foram suas referências?
Drexler
– O Paulinho Moska fala às vezes que eu ouço mais música brasileira do que ele. Poderia fazer uma lista de cem nomes, desde Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, Maria Bethania, Noel Rosa e Ary Barroso, dos antigos, e Villa-Lobos, da música clássica.


ÉPOCA - Como foi seu primeiro contato com Caetano Veloso?
Drexler -
Eu não gostei [risos]. Minha namorada tinha comprado um disco dele e pensei “pôxa, tem coisas lindas de bossa nova no Brasil, João Gilberto, Tom Jobim...”. Eu era mais tradicional, era mais velho nos anos 80. Só depois entendi o Tropicalismo e toda a história de ele ter tomado sons de cada época. Hoje ele é um dos artistas que mais admiro.


ÉPOCA – O disco tem um tom intimista. Você chegou a se isolar para fazê-lo?
Drexler
- É um disco mais voltado nas experiências pessoais, olhando mais para dentro do que para fora. Exatamente para compensar um ano de exposição muito grande na minha vida: muita velocidade, muitas viagens, muito olhar alheio na minha direção. Escrevi numa praia do Uruguai chamada Cabo Polônio, que não tem nem recepção de celular.


ÉPOCA - Essa exposição está relacionada ao Oscar que você ganhou pela música do filme Diários de Motocicleta?
Drexler
- Tem muito a ver com isso, e também tem a ver com um evento normal que está ocorrendo na minha carreira. Quando recebi esse prêmio, já tocava no Brasil, na Argentina, no México, no Chile, na Espanha, na Itália. Já estava viajando o tempo todo. Só que isso botou um turbo na carreira e tudo ficou exagerado. Esse último disco é uma resposta, ele não é feito para agradar. É um disco com título difícil, sem foto na capa nem na contracapa. É melancólico, introspectivo. Eu estou muito contente que um disco tão intimista tenha ganhado um prêmio de melhor disco na Espanha agora e tenha sido indicado para os Grammys Latinos.


ÉPOCA – O que significa o título 12 Segundos de Oscuridad?
Drexler
- Nessa praia em que estava, havia um farol que piscava a cada doze segundos. Gostei muito da metáfora do farol como entidade guia, que precisa de um lapso de escuridão para acabar de entender as coisas, de guiar. Isso também acontece na vida da gente.


ÉPOCA - Certa vez você disse que sua música “se move entre as tradições mais arcaicas do seu país e o aqui-e-agora musical”. O que você tem ouvido de mais arcaico e de mais novo hoje?
Drexler -
Boto no começo do meu show um músico costarriquenho que se chama Walter Ferguson. É um velho de oitenta e muitos anos que faz calypso com voz e violão. É a coisa mais moderna e mais arcaica que tenho ouvido ultimamente.


ÉPOCA - O que o público pode esperar dos shows de Brasília?
Drexler -
Tem versões de canções do Arnaldo que nunca tocamos ao vivo. Como Disneylândia, que é do Arnaldo e dos Titãs.Os ensaios foram maravilhosos, assim como a experiência de conhecer o Arnaldo, que eu não conhecia pessoalmente. É um encontro de gente que já vêm se comunicando artisticamente, mas é a primeira vez que estamos no mesmo cenário. Espero que o que a gente veja no show esteja mais integrado que o Mercosul político e econômico.


ÉPOCA - Você tem planos para um próximo disco?
Drexler
- Tenho muitos planos que ainda não estão concretizados. A única coisa que tenho certo é que, em novembro, vou gravar um disco ao vivo de voz e violão e eletrônico, como o show que fiz em São Paulo.

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