domingo, 22 de junho de 2008

O menestrel do Rock

Carlos Lustosa Filho

Coluna semanal, do dia 18/05/2007

 

 

 

Aos doze dias do décimo segundo mês do ano da graça de 1963 vinha ao mundo José Fernando Gomes dos Reis. Filho de uma professora de violão, o garoto ruivinho entoou seus primeiros acordes ainda criança. Aos 18, agora como Nando Reis, deu início a sua carreira musical entrando para o grupo Titãs, que logo alcançou sucesso nacional. No início da década de 1990, o artista deu o primeiro para uma vida fora da banda quando as músicas “Ainda Lembro”, “Diariamente” tornaram-se sucesso na voz de Marisa Monte com quem divide a co-autoria das músicas. Nesta época, ele também conhece Cássia Eller, um amor musical que, além da grande amizade, o proporcionaria um grande salto na carreira de ambos. Nando Reis é hoje um dos compositores mais gravados do rock/pop nacional. Já teve suas canções gravadas por diversos artistas como Cidade Negra e Skank. O cantor veio há duas semanas a Teresina para mais um show da turnê de seu sexto disco “Sim e Não”, mas antes concedeu a entrevista a seguir a O DIA.

 






Em Teresina você fará o show da turnê do “Sim e Não”, que foi bem recebido público. Mas você acabou de fazer um especial para a MTV, como ficou esse trabalho?

Gravei em janeiro o Luau MTV e tentei fugir de alguns coisas. Por exemplo, as faixas terão outros arranjos. Ele terá uma sonoridade diferente e será lançado em maio. Neste show já há algumas modificações e aparecem algumas canções deste novo trabalho. Do “Sim e Não” acho que ficam cinco ou seis canções.


Os críticos da música chamam o seu trabalho de rock-folk-pop. Como você o definiria?

É difícil definir meu estilo. Cabe ao crítico observar, estabelecer essa zona que é o meu trabalho. É um trabalho dele, é cabível, seja que gênero for. A minha linguagem é a forma como eu reúno as influências de tudo o que pode ser rock’n’roll. Porque não é como um abanda de rock; as músicas centralizam o violão como eu faço. O violão no meu é o “star”, tem uma função central nas minhas músicas e não apenas tímbrica.


Vários artistas já te gravaram, desde Ivete Sangalo a Skank, Marisa Monte e Jota Quest. Te agrada a versão que eles fazem das tuas músicas?

Eu me sinto muito honrado quando pessoas pedem músicas para mim. Elas sempre acabam gravando as minhas músicas e jogando luz sobre um ângulo até então imperceptível para mim. Eu tenho uma satisfação. Isso é uma dessas coisas mais importantes na minha carreira.


Você tem alguma preocupação em quanto a quem grava suas músicas?

Não sou muito seletivo, não tem problema. Às vezes pode ser que eu não deixe, por querer eu mesmo gravar antes e tal... jamais por questão de gênero e estilo.


Alguns críticos falam que sua música é simples, mas não é óbvia. Gostaria que você comentasse essa afirmativa. Qual é o segredo da sua composição?

A simplicidade parte do fato de que o meu conhecimento de música e repertório é rudimentar. Organizar acordes... eu penso e conjugo melodia e letra de uma forma muito particular. Para compor, me baseio nas relações amorosas, no cotidiano, mas não na coisa prosaica. Por isso a música fica com uma identidade própria e é fácil identificar o estilo. Acho que tenho uma marca e a música é uma linguagem.


Algumas de suas composições falam da letra “A” e você tem um disco chamado “A letra ‘A’”. De onde vem essa sua “fixação”?

Todo mundo tem uma fixação, eu tenho algumas fixações como a letra “A”. Gosto da forma simétrica da letra... No caso do disco (A letra A – 2003), era uma forma de demarcar também o início de uma nova fase (saída dos Titãs). Em “Relicário” também fala (cantando) “sua cartilha tem um ‘A’ de que cor?”. Acho que é isso... é uma fixação mesmo.


Você escreve semanalmente a coluna “Boleiros” sobre futebol para o jornal Estadão. Como está sendo essa experiência?
Eu não faço uma análise técnica, porque não sou capaz, mas sim uma análise poética, como uma metáfora de paixão. É curioso você perceber que aqui as pessoas trocam de casamento, sexo, mas não de time (risos). O futebol é um assunto interessante; eu gosto de escrever e o público parece estar gostando também.


Há alguns meses, a revista Veja traçou um perfil seu, deixando no ar que você só foi valorizado depois da saída dos Titãs. Como você acha que estaria se ainda hoje estivesse na banda?
Saí porque não havia mais sentido permanecer. Para fazer o trabalho solo, claro que você tem que ter uma disponibilidade de tempo e uma banda demanda muito tempo. O meu trabalho cresceu e eu optei (sair) porque não seria possível (permanecer); ficar na banda é ficar 100% para ela. Mas eu amo todos os Titãs, minha relação é magnífica com todos.

 

Não poderia deixar de lhe perguntar, como está em você a lembrança da Cássia Eller?
Eu sempre canto músicas da Cássia. Na vida, nos shows tive a sorte de ter na relação tão rica e musicalmente tão poderosa como com a Cássia. A música era o retrato da nossa afinidade. Ela gravou muitas músicas minhas e estava mostrando pra todos que ela era capaz de fazer um som excelente, apesar de muitas pessoas gostarem de rotular e condenar. Tenho certeza de que, se ela tivesse viva, ainda iria fazer muito sucesso.

*Entrevista publicada originalmente no caderno Metrópole do dia 13/05/2007

Nenhum comentário: