domingo, 22 de junho de 2008

Caña doce, azeda e com muito sabor

Carlos Lustosa Filho

Coluna de terça, dia 29/01/2008


Uma grata surpresa que descobri foi a paulista Ana Cañas. Já tinha ouvido sobre ela em revistas e blogs, até que a curiosidade bateu mais forte e decidi procurar o disco. E não é que a menina manda bem?


Ela faz um som misturando um pouco de "música regional" com jazz, blues e bastante personalidade. Em seu primeiro disco ela faz um som misturando um pouco de "música regional" com jazz, blues e bastante personalidade. O estilo me lembra, a princípio, um pouco Céu – de quem sou fã incondicional – mas vendo direito, talvez elas tenham em comum a vontade de inovar e fazer músicas ousadamente autorais (no bom sentido da palavra). As duas compõem as próprias músicas, têm uma marca pessoal e sabem o que querem. Vamos à diante.


O primeiro disco de Cañas “Amor e Caos” é bacana e tem faixas muito legais. Gosto principalmente de Devolve Moço (letra inspirada e interpretação idem), Vacina na Veia (da mudança de ritmo bacana), Super Mulher (regravada do Tom Zé, muito bacana) e a autobiográfica (?) A Ana. Esta em especial, com pegada blues, define bem o que a moça uma lida rápida na letra:


A Ana

(Ana Cañas/ Alexandre Fontanetti)


A ana disse ontem
A ana ficou triste
A ana também leu
A ana não existe


É a ana insiste
A ana não consegue
A ana inventou
Ela também merece


A ana é azeda
Mas é doce quando é doce
A ana é azeda
Mas muito doce quando é doce


A ana nada sabe
A ana sempre canta
A ana me enrola
A ana me engana


A ana se pintou
A ana não limpou
A ana que escreveu
A ana se esqueceu


Foi a ana que fez
Foi a ana que foi
Foi a ana em fá
Foi a ana, foi


A ana ama
A ana odeia
A ana sonha
A ana canta


Vale também pontuar a música Para todas as coisas, uma clara homenagem a Marisa Monte – artista inclusive citada na música –, uma quase paródia sobre Diariamente.


Acredito que Ana Cañas ainda vai se desenvolver muito e tem um pontencial estupendo. No disco ela mostra a que veio, que tem boas composições - todas as letras, exceto das regravações são dela. Falando em regravações, curiosamente, os pontos fracos do disco, são duas faixas de outros artistas: Coração Vagabundo do Caetano e Rainy Day Woman do Bob Dylan (e eu gosto de regravações...). A cantora também dá umas escorregadinhas na afinação, que às vezes dão um charme no jeito despretensioso que ela tem de interpretar, mas às vezes não. No mais, essa é uma dica ótima de MPB-Pop. Sem contar que ela é linda... hehehe Quem sabe ela não vem ao Piauí qualquer dia desses? No Artes de Março, quem sabe? A Céu já veio; se a Caña vier adoçar o Piauí, será muito bem-vinda. Adicione-a na sua lista de cantoras de MPB.




Bom, vamo deixar de papo e ver um pouco da moça:




Documentário sobre a gravação de "Amor e Caos"





Ana e o músico David Gordon Daves (Kinks) numa improvisação sobre

a música Route 66





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